quarta-feira, 20 de junho de 2007

Nietzche e as Máscaras


No final do século XIX Nietzche propõe estratégias para reabilitar o teatro e a máscara, uma vez que o pensamento platônico e a definição de identidade desenvolvida pela filosofia ocidental os condenavam.
Para Platão, a pintura e a poesia eram falsas e também todas as atividades que estavam diretamente relacionadas com elas, passando a ocupar o lugar do não-ser, do falso e da mentira, assim o teatro é diretamente condenado e também a máscara, uma vez que esta era utilizada durante os espetáculos para representar os personagens.
A lógica era operada no cunho mítico-religioso, valorizando assim a moral e a filosofia, que era tida como única responsável pelo julgamento do conhecimento do ser e da verdade, ou seja, era a única qualificada para dizer “o que é”.
Na concepção da sofística, condenada por Platão, a real importância do discurso não está em “dizer aquilo que é”, mas em “fazer ser aquilo que se diz” o que permite uma interpretação positiva da utilização da máscara, que por ele seria apenas associada ao fingimento.
No teatro grego a palavra hypocrates era utiilizada para denominar o ator e atualmente, nas línguas latinas modernas, a derivação desta palavra passou a se referir apenas àquele que mente, ao que finge para fazer-se passar por outra pessoa, ou toma posse de uma personalidade ou atitude que não é comum ao seu caráter, evidenciando que o uso da máscara passou a ser ligado as estratégias de ocultamento da verdade, que, por sua vez, era relacionada à nudez de um rosto desvelado.

Segundo Nietzche, a vontade de verdade é associada ao despudorado gesto de se despir, de transpassar os véus da aparência para ver o que pretensamente se esconde por trás, em arrancar máscaras para descobrir a identidade de um rosto que se encontra oculto. Para ele não é lucro realizar essa descoberta, pois afirma que a verdade não permaneceria a mesma se os seus véus, ou máscaras fossem retirados. “Nietzche acrescenta, então, espirituosamente e maliciosamente, que a verdade talvez seja uma mulher com razões suficientes para não deixar que se vejam suas razões, e que seu nome, em grego, talvez seja Bauco – personagem da mitologia que, para provocar o riso de uma desconsolada Deméter, levanta as saias e lhe revela o que esconde por baixo delas: sua verdade, ou seja, nada.”
O filósofo continua ainda dizendo que os antigos gregos, que inventaram o teatro, “souberam se ater à superfície”, e assim teriam se mostrado “
superficiais – por profundidade”.


Em seu livro Além do bem e do mal, diz que “tudo o que é profundo ama a máscara”, considerando profundo aquilo que se encontra na superfície, a aparência. Assim, conclui um pensamento que em vez de buscar chegar ao “fundo”, se atem ao “procedimento da mise em abîme”, que diz que por trás das máscaras existem sempre outras máscaras.


Texto base: Teatro e Máscara no pensamento de Nietzche. Nove Variações sobre temas nietzchenianos. Ferraz, Maria Cristina Franco.

Nenhum comentário: